Polícia Civil de Jandaia do Sul investiga dupla suspeita de integrar esquema que usava fé e doenças como isca para extorquir vítimas com supostas promessas de cura espiritual
A Polícia Civil de Jandaia do Sul segue desvendando um dos esquemas de estelionato mais audaciosos da região. Novos áudios anexados ao inquérito revelam detalhes chocantes das promessas milagrosas oferecidas pela falsa “mãe de santo”, conhecida como “vozinha” ou “baiana”. As gravações mostram vítimas sendo convencidas a pagar somas altíssimas por supostas cirurgias espirituais que, além de não surtirem efeito, agravaram o quadro de saúde de algumas pessoas.
“Depois da cirurgia espiritual que a gente fez, estourou de novo… Encheu toda… Travou de novo”, diz uma das vítimas em um dos áudios.
Em outro trecho, a golpista alega ter retirado um tumor do útero de uma mulher apenas com o uso de banhos de ervas e rituais. Ela ainda tenta tranquilizar a vítima, dizendo que “graças a Deus, não tem nada não”, reforçando a ilusão da eficácia do tratamento espiritual.
💰 Promessas de cura em troca de quantias astronômicas
A investigação revelou que os pagamentos feitos pelas vítimas eram impressionantes. Em uma das conversas, a suposta mãe de santo relata que uma vítima teria perdido R$ 20 mil e outra, cinco vezes mais: R$ 100 mil.
“Ela colocou cinco vezes o seu CPF… Vai dar 100 mil”, afirma a voz na ligação.
Segundo o delegado responsável pelo caso, todas as vítimas relataram que o contato com a “vozinha” era exclusivamente virtual, por meio de chamadas de vídeo ou mensagens de WhatsApp. O número utilizado está registrado em nome de uma das mulheres investigadas.
👮♂️ Investigação aponta para associação criminosa
De acordo com o delegado Dr. Saulo, o inquérito está em fase final e aponta para o envolvimento direto de duas mulheres. Ele destaca a possibilidade de lavagem de dinheiro e associação criminosa, embora ainda analise os detalhes para o possível indiciamento formal.
“Foi tudo feito por telefone. As vítimas usaram o mesmo número, que está no nome de uma das investigadas”, afirmou o delegado.
Apesar da negação por parte das suspeitas, a Polícia Civil já identificou ao menos oito vítimas no inquérito. Em alguns casos, os prejuízos chegaram a R$ 4 milhões, além de bens como joias, carros e imóveis.
🧾 Defesa aponta versão diferente e tenta desviar o foco
O advogado Marcelo Facini, que representa as investigadas, apresentou uma versão alternativa. Segundo ele, uma das acusadas teria sido usada como “laranja” para movimentações milionárias que seriam provenientes de um possível desvio de verbas públicas de prefeituras da região.
“Ela apenas emprestou sua conta por amizade íntima com a denunciante. Nunca recebeu nada em troca”, argumentou Facini.
Apesar da tentativa de apontar uma nova linha de investigação, o delegado mantém cautela:
“Pode ser uma estratégia de defesa. Não apresentaram nenhuma prova concreta, nem o nome de qual prefeitura estaria envolvida”, explicou.
🔍 Esquema pode ser um dos maiores já registrados na região
Para o delegado, a complexidade do caso e o valor envolvido colocam esse esquema entre os maiores golpes de estelionato já identificados no Vale do Ivaí.
“Ainda não conseguimos nem mensurar todo o valor. Muitas entregas foram feitas em dinheiro vivo”, reforçou Dr. Saulo.
A Polícia Civil já apreendeu bens e valores que serão enviados à Justiça. O objetivo é ressarcir as vítimas, muitas delas em situação de vulnerabilidade emocional ou com graves problemas de saúde — o que foi explorado cruelmente pelo grupo.


